Como a braquiária solteira, cultivada nos meses de outono e inverno pode contribuir para o aumento da produtividade da soja no verão? Em busca dessa resposta, a equipe do Rally Cocamar da Produtividade esteve na segunda-feira (28/2) na Embrapa Soja em Londrina (PR), onde foi recebida por três pesquisadores: Júlio Franchini, Alvadi Balbinot e o chefe adjunto Adilson Oliveira Júnior.
Fazer rotação – Por questões econômicas, nem todos os produtores admitem cultivar braquiária solteira no inverno, em detrimento de uma cultura comercial. Por isso, a orientação de Franchini é que isso seja feito em sistema de rotação, destinando a cada ano apenas uma parte das terras para essa finalidade.
Potencial – Numa parcela mantida na Embrapa Soja, onde no outono/inverno se fez o cultivo de braquiária solteira, o potencial de produtividade da soja, segundo o pesquisador, é de 180 sacas por alqueire (74,3 sacas/hectare), com incremento de 10% a 12% em relação a uma lavoura onde isto não foi feito.
Mais raízes e palhada – Franchini se baseia em um levantamento que leva em conta os resultados de seis safras. “Uma das principais vantagens da braquiária solteira é a maior produção de raízes e palhada”, afirmou, salientando que, na média por hectare, o cultivo resulta em 10 toneladas de matéria seca na superfície e 4 toneladas de raízes. Só para comparar, a cultura da soja deixa 4 toneladas de palha seca na superfície e 1,5 tonelada de raízes; o milho, 6 toneladas de palhada e 1,5 tonelada de raízes. “A diferença e o impacto são muito grandes”, disse.
Insuficiente – Como a palhada do milho deixa grande parte do solo desprotegido, o mesmo vai ficar exposto à radiação direta, havendo aumento considerável da temperatura da superfície (de 30ºC, em média, para mais de 60ºC) e maior incidência de ervas de difícil controle.
Planejar – Franchini comenta que como esse cenário de dificuldade climática veio para ficar, o produtor precisa adotar um planejamento, colocando a braquiária solteira em 20, 25 ou 30% da área, criando assim um ambiente muito melhor para a soja e com menos riscos de perda. “No longo prazo, há aumento de produtividade e rentabilidade quando se trabalha no sistema mais diversificado, caso da braquiária solteira.”
Nematoides – O pesquisador lembrou, ainda, que alguns produtores costumam criar barreiras à adoção dessa prática, incluindo o consórcio milho e braquiária, argumentando que o capim favoreceria a infestação de nematoides. “O que a gente vê é justamente o contrário. Com o aumento da diversidade de espécies vegetais, aumenta a diversidade de microrganismos no solo, o que ajuda a controlar as populações de nematoide, de maneira a não causar danos à soja. Em resumo: as populações de nematoide são menores onde a braquiária está presente”, observou.
Plantio direto – Quanto a conservação do solo, o pesquisador lamentou estar havendo perda de qualidade no plantio direto, uma vez que parte dos produtores valoriza muito a parte operacional, em detrimento das curvas de nível, que são retiradas total ou parcialmente.
Infiltração – “A curva de nível tem um papel muito importante, que é reter a água que não infiltra no solo”, explicou, acrescentando: em sistemas padrão soja-milho, comuns na região norte do estado, a infiltração é de 30 milímetros por hora. “Quando você diversifica com a braquiária, ou planta ela solteira, a infiltração aumenta, tranquilamente, para 60 milímetros por hora, reduzindo assim a perda de água por escoamento, que vai ficar armazenada no solo.”
Erosão – A curva de nível é indispensável, também, para proteger de chuvas muito volumosas, lembrando que em outubro do ano passado as precipitações passaram de 400 milímetros, muito acima da média, e observou-se que inúmeras propriedades tiveram sérios problemas com erosão.
Retrocesso – “A erosão causa um grande prejuízo, o produtor perde a camada mais fértil do solo e os danos são muito maiores que o ganho operacional”, disse Franchini, que completou: “Não podemos desvincular uma coisa da outra, temos que ter plantio direto com curva de nível e palhada para a qualidade física do solo. Não podemos retroceder”.
Investindo na soja
pela primeira vez
Ainda no distrito da Warta, município de Londrina, o Rally visitou a propriedade da família Fonseca, que mantém tradição na pecuária leiteira e de corte, onde o cooperado Sérgio Fonseca conduz os negócios ao lado dos filhos Diogo e Maicon. Para diversificar as atividades com o objetivo, também, de aumentar a rentabilidade, eles investiram pela primeira vez no plantio de soja, em 24 alqueires (52,8 hectares), sob a orientação do agrônomo Silvio Munhon, da unidade local da Cocamar.
Com a colheita recém finalizada, os Fonseca registraram a média de 145 sacas por alqueire (60 sacas/hectare), bem acima do que a grande maioria dos produtores vem obtendo este ano no Paraná. Num talhão de 6 alqueires, inclusive, a média foi de 173 sacas por alqueire (71,4/hectare). “Aqui praticamente não sentimos a falta de chuvas”, disse Diogo, salientando que embora sem experiência na cultura, eles se sentiram seguros com o apoio técnico prestado pela cooperativa.
O gerente das unidades de Londrina e Warta, Ricardo Mendes, comenta que as primeiras colheitas na região apresentaram média de 112 sacas por alqueire (46,2/hectare), número que deve subir com o decorrer dos trabalhos, pois as lavouras semeadas mais tardiamente se encontram bem melhores.
Sobre o Rally
O Rally Cocamar de Produtividade, em sua sétima edição consecutiva, conta com o patrocínio das seguintes empresas: Basf, Fairfax do Brasil – Seguros Corporativos, Fertilizantes Viridian, Zacarias Chevrolet e Sicredi União PR/SP (principais), Cocamar Máquinas, Lubrificantes Texaco, Estratégia Ambiental e Irrigação Cocamar (institucionais), com apoio da Aprosoja/PR, Cesb e Unicampo.